sábado, 29 de janeiro de 2011

Perita diz ser de menina, o corpo que era do Juan. Culpa da Faculdade?

Embora nessas horas surjam uma grande quantidade de “entendidos” gritando que ela deveria voltar pra faculdade, etc, etc, etc. Posso garantir a vocês que a culpa não é da Faculdade onde ela estudou.
Está muito longe o dia em que peguei meu caderno de Medicina Legal pela última vez, mas me parece que o diagnóstico do sexo através do exame do formato dos ossos não é um diagnóstico de certeza.
Erros desse tipo não acontecerá com você se fizer o estágio, no 6º ano, na especialidade de sua escolha e depois fizer uma pós-graduação ou uma residência nesta especialidade.
Agora se você fizer, por exemplo, cirurgia geral e depois aceitar trabalhar em uma maternidade, achando que obstetrícia é fácil, você irá cometer erros básicos, tais como: errar a dilatação do colo; fazer a episiotomia muito antes da hora e depois pedir um banquinho pra ficar sentado, esperando a hora do nascimento; e pode ser ainda muito pior, vê um pezinho aparecendo e manda a paciente pra sala de cirurgia para fazer uma cesariana, após ter feito a episiotomia (errou o diagnóstico da apresentação – achou que era cefálica, quando era pélvica e ainda faz uma cesariana com a episiotomia aberta, isto sem esquecer o risco de infecção, pois o pé já estava aparecendo, já estava em baixo, no canal vaginal, quando decidiu fazer a cesárea). E irá cometendo esses erros básico a vida toda, porque a vaidade o impedirá de ir trabalhar como se acadêmico fosse para aprender a fazer parto.
Quando um leigo olha para um erro bobo, ele pensa logo que a faculdade é ruim.
Quando nós olhamos para um erro bobo, a gente se pergunta, entre outras coisas: será que ela pediu alguém para ir no lugar dela naquele dia?; será que ela fez a especialização em medicina legal?; será que ela tinha condições adequadas de trabalho para fazer os exames necessários e dar um diagnóstico de certeza?; será que alguém estava querendo encobrir algo?; será…
São muitos serás e veja que em nenhum deles eu coloquei em cheque o ensino da faculdade onde ela estudou.
Eu vi e vejo muitos defendendo a restrição de vagas nas faculdades. Eu não concordo com essa posição, porque eu já percebi que a função da faculdade não é formar o médico.
Eu entendo que o curso de medicina deveria se reduzido para quatro anos.
Entendo que não é necessário passar um ano aprendendo anatomia, não é mais necessário ficar dissecando cadáveres, quando temos acesso a vídeos onde poderia ser mostrado o órgão vivo em um paciente aberto numa cirurgia.
Eu acho que seria suficiente uma visão inicial global (nome dos ossos, dos orgãos,…) e depois, dentro de cada cadeira (Pneumologia, Cardiologia,…), haver uma aula com a anatomia do órgão importante para o estudo da cadeira, bem como da histologia,… Até porque, quando estudei, eu tive que fazer isso por conta própria, para relembrar os lobos do pulmão e assim poder entender um raio x do pulmão...
O que quero dizer é que o ensino deveria ser mais integrado e mais voltado para a formação do médico.
E isso deveria ser feito através de apostilas e não daquele velho conceito: “aluno tem mais é que meter a cara nos livros e estudar” . Em outras palavras: ser autodidata universitário. Eu não concordo com isso. Quem defende isso, não se dá conta de que, quando estudou, a quantidade de conhecimentos a serem aprendidos era muito menor.
No final dos quatro anos, o aluno receberia um certificado universitário que lhe daria o direito de se inscrever para fazer uma prova para a especialidade de sua preferência onde, após concluí-la, receberia o diploma.
Entre as pessoas que defendem a restrição do número de vagas, há os de boa fé que ainda pensam o ensino de forma ultrapassada e os de má fé, “vendedores”, que estão apenas querendo diminuir a concorrência.
Os de boa fé não entendem que o aprender é dinâmico, que alguns alunos que foram apenas medianos no 2º grau ao ingressarem em uma faculdade que lhes interessa passam a estudar de verdade e podem se tornar melhores alunos do que outros que passaram no vestibular com notas maiores que as suas.
Os de boa fé continuam vendo o ensino da forma antiga. Parecem não se dar conta de que quando ingresaram na faculdade (na década de 60 e 70) a quantidade de conhecimentos a ser aprendida era muito menor. Não havia computador, internet, youtube, celular, … Hoje, qualquer um é capaz de fazer, editar um vídeo e colocar no youtube.
Com uma câmera simples, um celular, um computador de bolso ou um notebook, qualquer um  pode filmar uma cirurgia e mostrar, em aula, o que quiser.
A dificuldade está em saber simplificar o ensino, reduzi-lo ao importante para o aprendizado do médico.
Eu não queria ter falado estas coisas pra vocês, porque tenho medo de prejudicá-los por causa do seu espírito crítico aguçado. Por isso, só queria dizer a vocês como driblar esta deficiência do ensino atual, através das dicas que dei (post 1, 2, 3,... até R. I.), mas como aconteceu essa notícia de impacto nacional e como sei que sempre aparecem os “entendidos”, achei melhor fazer este post.
Mas não saiam por aí batendo de frente com o método de ensinar dos professores ou da faculdade. Fiquem na sua, seguindo uma orientação dada em um post: quanto mais eu estudar mais rápido eu me livro dessa cadeira e posso seguir a minha vida sem boicotes, sem atritos, sem prejuízos para minha carreira profissional.