sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A múltipara que não conseguia dar a luz

Multípara nasce fácil. Chegou, nasceu. Pelo menos era isso que eu ouvia todos falarem e que comprovava pela minha própria prática obstétrica até dar assistência a esse parto. (22/07/11 data real dessa postagem)

Fui todo feliz, avisar ao Dr. Mário, achando que tinha descoberto um caso que contrariava toda a teoria obstétrica e que iria fazer uma cesariana. Ah! como eu queria fazer a cesariana.
Dr. Mário, foi caminhando comigo, em silêncio, enquanto eu falava do caso e ansiava pela cesariana.
Chegando ao pré-parto, examinou a gestante (fez o toque), avaliou e pediu uma compressa.
Abriu o pacotinho, e saiu enrolando a barriga da gestante, fazendo uma leve compressão. No final, pegou um pedaço de esparadrapo, e usou-o para prender a compressa na barriga.
Rapidamente, para minha frustração acadêmica (lembre-se, eu estava doido para fazer a minha cesarinha), o parto evoluiu e a criança nasceu bem.
Agora, aqui vai o meu entendimento do que aconteceu:
Com a quantidade de gestações sucessivas, aquele útero (músculo) não conseguiu mais fazer uma contração eficiente.
Veja bem, o músculo uterino, tentando explicar didaticamente, ao contrair faz algo semelhante a um cilindro, centralizando o maior eixo do feto (da apresentação fetal) ao mesmo tempo em que o empurra para baixo.
Essa centralização é importante, pois coloca a apresentação (cabeça) em contato com o espaço pélvico por onde a cabeça irá passar. Se o útero não consegue manter essa centralização do eixo principal do feto é como se você quisesse entrar por uma porta e ficasse batendo com uma parte do seu corpo (o ombro) no lado da abertura(na parede).
No caso do feto, quem fica batendo é parte da cabeça.
O que o Dr. Mário fez, foi ajudar a manter essa centralização do maior eixo do feto. Assim, o útero não mais estava sozinho, a compressa que envolveu a barriga da gestante, ajudava-o a manter essa centralização.
No mesmo mês, em outro plantão que eu fazia com o Dr. Mário, chegou uma gestante (PI GII) que o trabalho de parto também não evoluía, mesmo com a indução (soro + …) – não é objetivo deste blog, ensinar obstetrícia, apenas estou tentando passar um aprendizado que aprendi na prática e que não se encontrava nos livros de obstetrícia.
Então eu fiz conforme o Dr. Mário fez e o parto evoluiu rapidamente.
Aviso: não saia por aí, enrolando as barrigas das gestantes, aleatoriamente.
Não use este conhecimento, para induzir o parto, pois se você leu atentamente e faz obstetrícia, sabe que esta não é a sua finalidade.
Este ensinamento está TOTALMENTE CONTRAINDICADO ( CONTRAINDICAÇÃO ABSOLUTA) em DCP (DESPROPORÇÃO CÉFALO PELVICA)
Eu fiz, porque sabia pela anamnese que aquela gestante já tinha tido um filho e que o parto tinha sido a termo.
Fiz, porque era um plantão tranquilo, onde só havia ela no pré-parto e onde eu pude ficar acompanhando atentamente a evolução do parto.
LEMBRE-SE QUE AO ENVOLVER A BARRIGA DA GESTANTE, VOCÊ DEIXA DE VER OS SINAIS DE Bandl-Frommel. POR ISSO ANTES DE ENVOLVER A BARRIGA, TENHA CERTEZA QUE NÃO HAJA DCP.
Estas postagens são direcionadas a quem deseja ser obstetra e já tenha uma boa prática obstétrica, não saia tirando onda nos plantões, querendo mostrar o que você ainda não tem experiência para ser. Não use este conhecimento para causar uma iatrogenia.
Se depois de ler, você começou a comparar os casos e pensou que talvez o problema não estivesse apenas na musculatura uterina, que poderia ter também a ver ou só a ver com a musculatura de contenção da parede abdominal, já que aconteceu também com uma GII PI. É possível que você esteja no caminho certo.