domingo, 27 de fevereiro de 2011

14 todos nós somos humanos com erros, virtudes, angústias,… e a compreensão disto é uma qualidade fundamental para um bom médico(a)

A postagem anterior me lembrou do grupo de semiologia.
Cada dia era um disse me disse, fulano fez isso, fulana fez aquilo,… cada um vinha se queixar comigo do outro.

E eu, antena de discórdias, chegava em casa passando mal, muitas vezes tinha dor de cabeça, mal estar.
Os colegas não se dão conta, mas cada um de nós temos uma história de vida. E aquele ambiente de discórdia estava me levando de volta para o ambiente de tensão familiar, de brigas domésticas, de discórdias que durou anos até a separação de meus pais.
Então, aquele mal estar que eu sentia e na época não conseguia expressar em palavras até porque só fui entender isto anos mais tarde, quando fiz análise, me fez fugir do grupo como o diabo foge da cruz.
Eu cheguei para a Selma e falei: vou mudar de grupo. Ela teve um choque e provavelmente por isso não conseguiu falar nada.
A Tânia provavelmente sentindo-se traída (sentimento este totalmente compreensível) nunca me procurou para saber o porquê de eu ter mudado de grupo. E isso provavelmente foi até melhor, pois eu não saberia, na época, colocar em palavras o porquê da minha saída e teria dito apenas: saí porque este grupo não era um grupo. De modo que acabaria magoando ainda mais as pessoas.
Quando eu mudei de grupo vários outros colegas mudaram também. Já não se davam bem, embora todos se dessem bem comigo.
E fica, nos que ficaram, aquele sentimento de abandono, de não serem queridos, de terem sido trocados por outros, quando na verdade a minha mudança não teve nada a ver com gostar ou não das pessoas e sim com não gostar do ambiente que estava me fazendo muito mal.
Já os que mudaram depois, provavelmente mudaram por não se gostarem, já que eu, como antena de discórdias, vivia ouvindo.
Eu nunca me arrependi de ter mudado de grupo, até porque se a minha faculdade se resumisse a este meu novo grupo e mais a uns três amigos para mim já teria sido BOM DEMAIS.
Sinto por não ter podido explicar a Selma e a Tânia o motivo da minha mudança.  Mas isto não foi culpa minha já que só conseguiria expor aquele sentimento em palavras anos depois.
E também não adiantaria muito, nós éramos muito jovens, ainda sem maturidade para compreender, e elas provavelmente ficariam magoadas comigo do mesmo jeito.
Fica aqui essa experiência de vida, para vocês perceberem que cada um dos seus colegas tem uma história de vida com angústias, sentimentos, privações,… e como médico(a) você deve aprender a compreender melhor isto para não sair atirando injustamente contra alguém que pode apenas não ter sabido como expressar seus sentimentos em palavras.