domingo, 21 de novembro de 2010

Agora você já pode ser um bom obstetra

Basta fazer (23/07/11 data real da publicação)

um caderninho com os dados de assistência ao parto.
GI P0  APRESENTAÇÃO CEFÁLICA
Horário
Contrações
De Lee
Dilatação do colo
Apagamento do colo
Consistência do colo
Posição do colo
Veja bem, que esses dados são anotados no seu caderninho próprio. Perceba que neles eu não coloquei o BCF, um dado fundamental na assistência ao parto.
O título GI P0 APRESENTAÇÃO CEFÁLICA não precisa ser mais repetido em cada acompanhamento de parto.
O que você pode tirar desses dados?
Comparando os partos GI P0 que você já fez, vamos supor 5-10 partos e tendo anotado a evolução do parto (horário, contrações,…), você poderá compará-los e adquirir informações muito importantes:
  1. o tempo médio que dura o trabalho de parto em uma GI P0, para isso basta olhar o horário da internação e o horário do parto. Isso ajuda você a gerenciar as várias gestantes que estão no preparto, levando você a saber o momento aproximado da hora do nascimento e assim os partos que você assiste nascerão na sala de parto e não no preparto.
  2. você terá uma noção da evolução do parto. Exemplificando: uma gestante com  contrações 2/10’/50” , dilatação 3 cm, apagamento 100%, consistência manteiga estará em De Lee… E como você sabe isto? Olhando os dez partos GI P0 que você já fez e tirando a média estatística.
  3. E por que a informação do intem 2 é importante? Porque permite a você suspeitar de uma DCP. Veja bem se você sabe pela média estatística em que nível de De Lee deveria estar a cabeça com um colo de 5cm de dilatação, apagado 100%… e ao examinar perceber que a cabeça está acima do nível esperado pela sua média estatística, você já suspeitará e até DIAGNOSTICARÁ DCP e indicará a cirurgia com total segurança embasado em sua estatística. Perceba aqui, que quanto maior o número de partos GI P0 da sua estatística (20, 30,…) maior serão os dados coletados e compardos por você, logo maior será a sua segurança e mais cedo será a sua indicação. Assim, menor será o sofrimento do feto e mais saudável será.
  4. Perceba que no seu plantão, gestante com sinais de eminência de rotura uterina nunca acontecerá, a não ser que chegue a maternidade assim. Pois quanto maior a sua estatística, mais cedo você diagnosticará o DCP e com total segurança, podendo inclusive mostrar (provar com o seu caderninho) o porquê da indicação cirúrgica.
  5. Esses dados são importantíssimos também para mostrar a você um parto que não está evoluindo. É aquele parto demorado, que não é DCP. Isto ajuda você a saber quando fazer a indução (soro + …) 
  6. Você perceberá pelos dados estatísticos que um colo manteiga (molinho, molinho) apaga rapidamente e dilata rapidamente, já um outro colo onde você sente uma certa elasticidade irá demorar mais a dilatar, logo o tempo do parto será maior. Isso é importante para você gerenciar o preparto e não se perder deixando o bebê nascer no préparto.
  7. Esses são as informações mais importantes de que me lembro e que você pode colher fazendo seu caderninho.
  8. Perceba que nesse seu caderninho deve ter outros espaços como por exemplo: GII PI A0; GIII PII A0; etc.
  9. Aumentando a sua prática de toque, você pode acrescentar outros dados no seu caderninho, como por exemplo. A posição onde você sentiu a fontanela e qual é ela. Assim você irá diferenciar os partos que tem a mesma apresentação (cefálica), mas que as fontanelas são diferentes ou sendo iguais estão em lados diferentes.
  10. Perceba que eu estou aconselhando você a fazer isto por toda a sua vida, pois quanto maior o número de partos que você anotar, mais coisas você irá percebendo e até descobrindo.

    Recomendo colocar ao final o APGAR 1º minuto (obstetra) e o APGAR 5º minuto (pediatra). Para que você possa fazer uma comparação entre a duração do parto e o APGAR, o tempo de jejum materno e o APGAR, patologias maternas, e outros pontos que você vier a achar importantes. 
    Não basta nascer, é preciso nascer com um bom APGAR.
    ESTUDANDO EPIDEMIOLOGIA, DESCOBRI QUE A RUBÉOLA CONGÊNITA FOI DESCOBERTA POR UM OFTALMOLOGISTA AUSTRALIANO, quando uma mãe comentou com ele que na sala de espera havia outra mãe que tinha tido rubéola na gravidez e que seu filho também tinha problema na vista. Esse pequeno comentário chamou a atenção do oftalmologista e pesquisando suas fichas e outras passou a notar a "coincidência" das mães com rubéola na gravidez e os filhos com os diversos problemas. Aí eu pergunto para você que quer fazer obstetrícia: não é uma vergonha que tanto os obstetras como os pediatras não tenham percebido tal relação? Bastaria ter feito comparação de fichas dos casos atendidos. Por esse pequeno fato histórico você pode ver a importância do procedimento que lhe mostrei acima.

    GOSTARIA  DE COMENTAR A IMPORTÂNCIA DO ITEM 5.
    Você deve considerar que quanto mais demora o trabalho de parto, mais tempo a mãe está sem se alimentar (hipoglicemia que pode inclusive afetar o feto) pois ela não pode ingerir alimentos já que pode haver necessidade de uma cirurgia.
    Quanto mais demora o trabalho de parto, mais tempo a cabeça fetal fica sofrendo (acidose, traumas de compressão, e outros que ainda desconhecemos).
    Assim, quanto mais cedo você descobrir que é preciso fazer a indução, menor será o sofrimento materno e fetal. O feto nascerá com melhor apgar.