quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Estudantes muito inteligentes com notas baixas na faculdade, por quê?

Quando fiz faculdade, percebi que alguns colegas que me pareciam muito inteligentes tinham uma enorme dificuldade de se ajustarem e que, muitas vezes, as notas destes colegas não correspondiam a sua capacidade intelectual.
E o pior é que quem ensinava não percebia isto.
E por que as notas dessas pessoas não correspondem a sua capacidade intelectual?
Imagine que você tenha decidido correr a maratona.
Aí você contrata um personal trainer.
Como você nunca correu, provavelmente irá começar correndo pequenas distâncias que progressivamente irão crescendo até seu organismo ficar apto a percorrer a distância total de 42 km.
Agora, imagine que você discorde do seu personal e ache que aquele treinamento preparatório é pura bobagem, que você quer mesmo é começar correndo logo os 42km.
Não precisa ser nenhum gênio para saber aonde você vai parar.
É óbvio que você acabará se contundindo e desistindo de correr a maratona.
É isso que acontece com as pessoas inteligentes e consequentemente muito críticas.
Elas começam a discordar do que é ensinado ou da forma como é ensinado e aí passam a ocupar grande parte do seu tempo de estudo, estudando assuntos que não serão abordados nas provas do seu ano. Logo as suas notas serão baixas, pois o tempo que dedicarão a estudar o que será cobrado na prova não será suficiente para aprender.
O modelo de ensino universitário geralmente agride muito as pessoas inteligentes, pois ao raciocinar elas contestam o modelo. E ao contestar sofrem uma reação contrária e na maioria das vezes prejudiciais e até covardes.
E aí desistem.
E quem perde com a desistência delas é a sociedade.
Os contestadores acabam fazendo o papel do boi de piranha. Isto é, ao chamarem a atenção sobre si, atraem as críticas, as retaliações,… e aí têm as portas fechadas.
Enquanto o boi é devorado pelas piranhas, os outros, às vezes até menos competentes, passam silenciosamente.
Por isso o meu conselho é: evitem, se possível, contestar.
Em vez de ficar com raiva da forma como a matéria é ensinada, procure manter-se focado: eu tenho de aprender logo isto e passar.
E passando, você se livra mais rápido daquilo que está lhe aborrecendo.
Quando seu espírito crítico lhe disser que você não precisa saber aquilo tudo, porque você vai acabar esquecendo, pense o seguinte: eu estou treinando para correr a maratona. Eu estou treinando o meu cérebro para aprender mais coisas. Meu cérebro está adquirindo resistência tal qual meus músculos adquirem para correr a maratona. Meu cérebro está formando novas sinapses que no futuro me ajudarão a aprender as outras matérias que ainda virão.
Ninguém que acabou de aprender a ler consegue ler um romance de 500 páginas.
É necessário prática de leitura. Começando com livros infantis, gibis, revistas, jornais, crônicas,  contos, romances pequenos, médios até conseguir ler o romance grande.
Assim, quando você estiver em uma situação em que acha que está perdendo tempo aprendendo coisas que irá esquecer depois, que não precisa aprender aquilo tudo, etc, pense nisto: você pelo menos está treinando o seu cérebro a aprender mais rápido as matérias que ainda virão.
Acho que é melhor do que ficar dando murro em ponta de faca, reclamando, pois não vai adiantar nada e pior, ainda vai te estressar e te prejudicar.
Uma coisa que passa despercebida a você é que quando você contesta algo, as pessoas não entendem que você está falando aquilo com o intuito de melhorar a qualidade do ensino.
Não vale a pena correr o risco de passar a impressão de que você está dizendo que aquilo tudo é uma droga.
Por isto eu aconselho: evite contestar para não correr o risco de ser mal interpretado e acabar fazendo o papel de boi de piranha.
É triste dar um conselho destes a vocês, mas é melhor do que ficar se estressando desnecessariamente, dando murro em pontas de facas  e sofrendo retaliações veladas de “professores”, funcionários e até de colegas invejosos.
E o mais importante: NUNCA falem mal da sua faculdade. Se vocês tiverem condições de fazer uma crítica construtiva internamente com alguém que possa resolver o problema, tudo bem. Mas não saiam por aí dizendo a todo mundo que na sua faculdade acontece isto, aquilo e aquilo outro. Que é uma droga.
Nas outras faculdades provavelmente acontece as mesmas coisas, mas você só vai ouvir isto: “na minha faculdade não é assim.”
Não perca o seu foco e a sua sanidade com pessoas que só estão interessadas em tapar o sol com a peneira.
Repito: não saiam por aí falando mal da sua faculdade de medicina.
Um abraço.