Eu nunca me achei burro quando tirava notas mais baixas que os outros colegas.
Várias vezes perguntei para a katia, no anatômico: como é que você consegue tirar estes notões? Eu estudo a bessa e nada. Ela sempre respondia, rindo,…
Eu não me lembro da resposta dela com as suas próprias palavras até porquê, eu nunca entendi a resposta.
Mas o que ela tentava me dizer era o seguinte: ao invés de você comprar o tratado para estudar (o resendão de obstetrícia), compre o resendinho. Isso porque não dará tempo de você estudar todos os tópicos pelo resendão, já pelo resendinho você terá estudado mais tópicos e terá uma boa visão básica geral da matéria.
Outra vez perguntei ao Mozart: cara, como é que eu estudo tanto quanto você e você só tira notão. Já eu…
O Mozart, o cara mais solidário que eu conheci nesta vida, olhou para mim como que avaliando o motivo por eu estar fazendo aquela pergunta e, para minha sorte, parece que percebeu que eu não estava criticando o fato dele tirar nota alta, não estava dizendo que ele não merecia a nota, mas apenas tentando entender onde eu estava errando.
Então o Mozart me respondeu, quando eu faço uma prova escrita, mesmo quando eu não sei a resposta, eu escrevo o que estudei para que o professor veja que eu estudei a matéria e aí ele me dá meio ponto, 1,5, etc.
Na mosca, eu estava seguindo a orientação daqueles professores que diziam para a gente ser objetivo, só responder o que estava sendo perguntado nas questões e estava me ferrando.
Foi lembrando da forma do Mozart estudar que eu aprendi a transformar o caderno em apostila. Até hoje, tenho o seu caderno de bioquímica que ele me emprestou.
Não, eu não roubei o caderno do Mozart. Ainda tentei devolver um dia, mas ele falou pra eu continuar estudando nele. E como mudamos de faculdade acabei nunca mais lhe entregando, mas o tenho até hoje.
É por causa do Mozart que vocês puderam ter acesso, neste blog, a dica do caderno.
Infelizmente a formatura do Mozart e de outro amigo, o Marco, cairam exatamente no mesmo dia, de modo que não podendo escolher entre dois bons amigos, acabei faltando as duas e indo para o meu plantão de obstetrícia. A vida nos apronta estas coisas.
Já eu, no quarto ano de medicina, quando já sabia parcialmente estudar e tirava boas notas, fui abordado por um “colega” que me amostrou uma cola que havia feito (uma sanfoninha).
Depois de me amostrar ele perguntou qual é a sua. Como é que você cola?
Este mesmo “colega”, depois que eu descobri que queria fazer obstetrícia, foi na frente da sala, em uma aula de urologia, e na frente do chefe da cadeira disse em alto e bom som, no meio da aula, que os obstetras não sabiam operar que só faziam cagadas (desculpem o palavrão).
Tem gente que em vez de tentar se aperfeiçoar, prefere achar que o outro tira notas boas por estar colando ao invés de procurar descobrir quais os erros na estratégia de estudar que está cometendo.
Outra colega, quando eu a chamei para estudar comigo para a prova técnica cirúrgica, pois percebi que ela estava estudando por uma apostila que eu já tinha estudado e tinha abaixado a nota não só minha mas de vários colegas, pois estava cheia de erros.
Pois bem, quando essa colega viu as perguntas e respostas que eu tinha feito para estudar para a prova me olhou espantada e perguntou: “foi você mesmo que fez tudo isso?”
Hoje, eu percebo que por trás daquela pergunta estava implícito: “como é que você, um cara que cola, foi capaz de fazer tudo isso”.
Para alguns parece ser mais fácil achar que o outro não merece a nota que tira, em vez de procurar descobrir os erros que está cometendo ao estudar e aí corrigi-los.
Eu sempre tive uma intuição didática, de modo que uma vez a minha turma se ferrou na prova de cardiologia (eu tirei 7) e a outra turma anterior tirou em média só notão.
Então, um colega comentando as notas veio me falar que a outra turma estava num nível intelectual mais alto, essas bobagens.
Eu respondi, cara, isso não tem nada a ver. O que aconteceu foi que o professor inverteu as provas. A segunda prova que ele deu pra gente, abordava mais semiologia. Era a prova que deveria ter sido a primeira prova. Pois pelo que a gente havia estudado, era essa a prova que deveríamos ter feito. E foi essa a prova que ele deu para a outra turma, daí as notas terem sido elevadas na outra turma.
Já a primeira prova que ele deu pra gente, se tivesse sido a nossa segunda prova, as nossas notas seriam também melhores, pois nesta etapa nós estaríamos preparados para fazer aquela prova.
Aí, como os outros colegas não tem a mesma capacidade intuitiva de didática de aprendizado, começam a achar que a gente tá com inveja deles e coisas do tipo.
Essa mesma capacidade de analisar a didática do aprender mais a minha falta de preconceito quanto as pessoas que me levava a conversar com os diferentes tipos, embora hoje eu perceba que a recíproca pareça não ter sido a mesma, me levou a perceber que os colegas que eu sabia que estudavam pra caramba estavam se ferrando nos concursos onde outros que não eram tão bons passavam.
Aí eu entendi que esses que estudavam a bessa não estavam estudando por provas.
Eu nunca peguei as provas para estudar procurando por uma fórmula mágica, tentando descobrir como chutar para acertar as respostas, embora vários colegas por deficiências próprias de análise tenham chegado a esse diagnóstico equivocado. Como disse anteriormente, os mediocres de alma preferem achar defeitos nos outros a descobrir e corrigir suas próprias falhas.
Para não me alongar muito, aquela dica de como estudar por prova é uma carta na manga se você também tiver estudado a teoria pelas suas apostilas.
Eu sempre li as provas analisando criticamente as respostas e várias vezes percebi algumas respostas de gabarito erradas.
Como eu tinha estudado a teoria, eu sabia que aquela resposta do gabarito não podia estar certa então eu ia ver se havia alguma pegadinha na questão ou se houve erro de marcação.
Já quem estuda decorando os gabaritos…
Eu achei importante fazer esses comentários comportamentais, não por estar depurando minhas mágoas, mas por achar que a experiência pode ser útil para alguns de vocês, pois uma pessoa querida, recentemente terminou a faculdade de medicina e o que ela me contou sobre o que alguns colegas fizeram com ela mais me pareceu bullings. Eu fiquei horrorizado.
Assim achei que a experiência poderia ser útil para alguns.
O que eu percebo em algumas pessoas é que não sabem escolher.
Um colega de república, uma vez veio falar mal do Mozart para mim, eu admirava o Mozart e continuei sendo amigo dele. E foi a minha sorte, pois se o Mozart não tivesse me emprestado os seus resumos para estudar para as provas finais do primeiro ano, eu provavelmente teria ficado em segunda época em no mínimo duas matérias, pois como disse anteriormente neste blog, eu não fiz caderno no primeiro ano.
Outro no plantão de obstetrícia, chegou para mim, comentando que o chefe de equipe deveria ser muito mediocre para ter um carro daquele.
Eu nunca vi as pessoas pelo que elas têm e nem tinha sequer reparado no carro do chefe de equipe. Que por sinal me pareceu ser um bom carro.
No ano seguinte, o chefe de equipe me chamou para dar plantão com ele e eu prontamente aceitei. E foi ele que me passou o aprendizado mais importante de obstetrícia, embora na época eu tenha ficado muito frustrado, pois tinha certeza que eu iria fazer uma cesariana.
Uma multípara (gestante de muitos partos anteriores) não evoluia. E como todo obstetra sabe, multípara é parto normal.
Mas na sede de cesariana que a gente tem quando está aprendendo, eu achei que aquela multípara contradizia a teoria obstétrica e que eu ia finalmente fazer minha cesarinha.
E lá fui chamar o Dr.Mário, ele chegou, examinou a paciente e depois para minha frustração pediu uma compressa e enfaixou a barriga da gestante. Minutos depois o feto nasceu.
Eu fiquei frustrado por não fazer a minha cesária, mas aquele ensinamento, que não estava em nenhum dos grandes livros obstétricos da época, foi o aprendizado mais importante de obstetrícia que eu tive.
Como é que um obstetra vai justificar que fez uma cesariana em uma multípara, pois o parto não evoluía. Quem é que vai acreditar?
Muitas pessoas podem achar equivocadamente que eu tive sorte de conhecer estas pessoas, mas eu acho que muitas vezes estas pessoas estão do lado das pessoas que dizem não ter a sorte que eu tive de conhecer, só que elas acham que o cara deve ser ruim mesmo por ter um carro daquele, ela deve é estar colando, e coisas do tipo.
Espero que essa experiência possa ajudar vocês a se livrarem dos seus preconceitos e a se relacionarem melhor se possível, quando não, pelo menos, a se defender.
Um abraço, felicidades a todos.