quarta-feira, 13 de junho de 2012

Talvez você não acredite,

mas a maior dificuldade não foi tirar a Anne de lá e trazê-la para o tempo presente.
O meu maior medo era ser descoberto pelas autoridades do presente e consequentemente ser acusado dos crimes de sequestro e tortura e em consequência disto a Anne sair de um campo de concentração nazista e acabar em um hospício moderno. (não sei o que é pior)
Qual médico acreditaria que ela era a Anne Frank.
Você pode estar se perguntando: “mas você não tinha a máquina do tempo, por que simplesmente não ficar pulando…?”
Você não acha que eu vou ficar andando por aí com uma máquina do tempo, com o risco de ela cair em mãos erradas. Vai que eu sofra um acidente e morra, quem vier me socorrer pode pegá-la ou vai que eu sofra um assalto e o assaltante a leve.
Não! As máquinas ficaram muito bem guardadas e em locais diferentes.
Primeiro eu tive que ocultar a Anne para conseguir tratar o seu estado de subnutrição que deveria ser muito grave pelo que vi nos documentários e o tifo que disseram que ela tinha, pois morreu em uma enfermaria escura depois da sua irmã.
Conseguir mostrar para a Anne que eu não era mais um nazista que ela estava salva, que eles tinham perdido a guerra,… meu maior medo era que ela saísse pela porta do apartamento gritando e nos entregasse. E aí, eu acabaria numa prisão e ela em um hospício. E eu provavelmente morreria torturado por ter feito aquilo com ela. Como disse antes, não poderia entregar a tecnologia do tempo para qualquer um.
Coloquei cartazes escritos na língua dela dizendo que os nazistas haviam perdido a guerra, que ela estava em 2005, que os judeus depois da guerra conseguiram o Estado de Israel.
Escrevi que ela podia ver os documentários da derrota de Hitler quando quisesse.
Mostrei a televisão (para ela cinema em casa), a internet.
O google foi uma mão na roda, pois com ele pude me comunicar mais facilmente. Escrevia na minha língua e ela lia na língua dela.
É claro que eu tentei aprender a língua dela antes de salvá-la, mas línguas nunca foram o meu forte.
O apartamento estava cheio de dvds com filmes de comédia e shows de humor para ajudá-la a superar a depressão que a acometeria ao saber das mortes de seus entes queridos (comprei até um cachorrinho para lhe fazer companhia) e a trilogia de volta para o futuro para tentar fazer compreender o que estava acontecendo com ela.
A primeira reação da Anne foi querer que eu voltasse lá e salvasse a família dela. "Por que você não mata o Hitler e impede a guerra e tudo o que ele fez?”
Anne, eu não sou Deus. Sou só um ser humano como você. Se eu volto lá, mato o Hitler e outro assume o lugar dele e os nazistas ganham a guerra? O Hitler cometeu erros que outro em seu lugar talvez não cometesse. Eu não posso arriscar que os nazistas vençam a guerra e consigam exterminar todos os judeus.
A Anne só pareceu sossegar quando eu disse a ela que ela poderia descobrir uma forma de salvar os seus desde que essa possibilidade não interferisse com a história. Os olhinhos dela começaram a ganhar vida, foi como se ela recuperasse a vontade de viver. Seu corpo adquiriu novas forças, queria ver o mundo novo.
Aí eu comecei a pensar na próxima dificuldade. Como preparar a Anne para o caminho que a humanidade precisaria que ela concordasse em trilhar? Como fazê-la compreender e acreditar nesse caminho paralelo?
Fazê-la viver no tempo presente com o nome de Anne meu sobrenome não foi nada difícil, pois ela já tinha passado anos presa se escondendo. E viver descobrindo o Novo mundo foi fácil. Mais difícil foi conseguir os papéis para a adoção. E o meu terror de que algum viajante do tempo chegasse dizendo que era o pai dela que eu a tinha sequestrado…
Depois conseguir fazê-la entender com todo o seu ser de que ela não poderia voltar lá para matar o Hitler, de que ela não poderia voltar lá e falar com seu pai para ir para os EUA, fazê-la compreender da importância que o seu diário teve para inúmeras pessoas no mundo e como ajudou até a Nelson Mandela e que ainda ajudaria a muitas pessoas.
Mostrei pela internet e levei-a para conhecer a casa de Anne Frank. Ela parou e ficou olhando um bom tempo para a estatuazinha que fizeram em sua homenagem em frente a casa.
Por fim, eu acredito que consegui convencê-la de que nós somos apenas beija-flores que com seu pequeno bico vamos ao rio e pegamos pequenas gotinhas de água para tentar apagar o incêndio que os monstros desumanos causaram e ainda causarão.
Mas que nós precisamos confiar em nossas escolhas e preparar os futuros pequenos beija-flores para que no futuro ainda muito distante quando eles não forem mais apenas beija-flores eles possam continuar voltando e levando a humanidade para o ponto que ela tem de chegar para a nossa própria salvação e dos seres que estão a nossa volta.
Eu disse a Anne que eu a escolhi, porque sabia que com tudo que ela sofreu e viu os outros sofrerem, ela mais do que ninguém sabia que tal tecnologia não podia ser entregue para qualquer um. Que era necessário saber escolher a quem passar adiante e que nem a irmã dela, nem a mãe, nem mesmo o pai dela estavam preparados para tamanha responsabilidade.
Disse também que ela poderia consultar os grandes gênios da humanidade e sugeri Newton e Einstein em caso de alguma dificuldade.
Disse que era primordial a escolha do próximo beija-flor e que este aprendesse também a escolher, pois só assim, em um futuro ainda muito distante onde talvez a morte até já tenha sido vencida, nós deixaremos de ser beija-flores e poderemos garantir que a humanidade alcance a salvação.
Nós não entregaremos tal tecnologia a governo nenhum, pois a história dos nacionalismos já mostraram as barbaridades que os nacionalistas fazem, mas se houver algum intercurso e só se  houver, esta tecnologia será entregue aos americanos, pois são a nação mais desenvolvida da terra e apesar de todos os pesares são democráticos e não são monarquistas.